EN / PT
Galeria Luciana Brito

Augusto de Campos: Poemas e Contrapoemas

LB News
  • 1/18

Luciana Brito Galeria tem o prazer de apresentar a exposição individual de Augusto de Campos POEMAS E CONTRAPOEMAS. A mostra propõe um recorte sintético em grande formato de sua poesia, a partir de critérios plásticos, que abrangem seis décadas da produção do artista, incluindo poemas seminais e trabalhos inéditos produzidos nos últimos anos.

 

Poemas e Contrapoemas

 

Os primeiros CONTRAPOEMAS de Augusto de Campos, obras que incorporam uma nota de protesto e contestação, foram publicados nos anos 1960, em resposta à mudança no contexto político nacional representada pelo Golpe Militar de 1964. Eles perfazem parte da exposição na Luciana Brito Galeria, que inclui desde LUXO, de 1965, construído sobre a tipografia kitsch de um anúncio de apartamentos de alto luxo, até poemas mais recentes, alguns deles  inéditos. É o caso do ready made CLÁUSULA PÉTREA, que é “a mera transcrição de norma fundamental da Constituição brasileira que proíbe que alguém seja considerado culpado, e portanto, privado de sua liberdade,  antes de decisão de última instância,e que não está sendo cumprida”, afirma o poeta.

Sejam inéditos ou mais antigos, como SOL DE MAIAKÓVSKI (1982/93), os CONTRAPOEMAS se fazem presentes na mostra como forma de oposição ao atual contexto. “Este momento jurídico-político brasileiro me traumatizou muito. Acho trágico para o Brasil o retrocesso imenso que ocorreu desde o impedimento da presidente eleita”, explica.

Uma intensa pesquisa de materiais antecedeu a produção da mostra, pois todos os poemas são apresentados em nova finalização, incluindo formatos e suportes expandidos, diversos dos de anteriores exposições. Neste sentido, o destaque vai para a obra LUXO, que se exibe pela primeira vez num molde cogitado por Augusto nos anos 1960, mas que não lhe havia sido então possível  executar. Cobrindo um arco de  mais de meio século, a exposição passa por vários momentos da sua evolução poética, com ênfase nas artes plásticas. Trata-se de umm registro sintético, mas de alta qualidade material,  que busca ser fiel aos ideais do poeta, expressos nos aforismos de dois de seus artistas preferidos: Anton Webern: “non multa sed multum”. Emily Dickinson: “Pouco, mas muito.

 

A poesia concreta

Augusto de Campos criou, na década de 1950, ao lado de seu irmão Haroldo de Campos (1929 – 2003) e do amigo Décio Pignatari (1927 – 2012), a poesia concreta brasileira, um projeto artístico que buscava revitalizar e atualizar a linguagem poética, com ênfase na invenção e no experientalismo,  a partir de critérios transdisciplinares, assumindo perspectivas tecnológicas que iriam avultar em fins do século 20, na área digital, continuando a infletir significativamente  na arte dos nossos dias.

Esses critérios, estipulados nos manifestos que publicaram em 1956,  foram sumarizados pelo trio em 1958, no Plano-piloto para a poesia concreta, publicado na revista Noigandres nº 4, também fundada por eles: “dando por encerrado o ciclo histórico do verso (unidade rítmico-formal), a poesia concreta começa por tomar conhecimento do espaço gráfico como agente estrutural,  espaço qualificado”. Mais do que gráfica, trata-se de uma obra “verbivocovisual”, ou seja, uma poesia que trabalha em todos os níveis materiais da palavra, e não é mero veículo de algo abstrato, sem corpo. 

À época, a poesia concreta andou lado a lado com seu movimento correlato nas artes visuais, encabeçado por Waldemar Cordeiro e pelo Grupo Ruptura. Obras de Augusto de Campos foram apresentadas na Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no MAM SP em 1956, momento em que o movimento floresceu.  

 

Novos tempos

Por reação contextual às graves mudanças vivenciadas pelo país com o Golpe de 1964, sua obra afastou-se da ortodoxia concreta da primeira fase. Fez-se um adendo ao Plano-piloto (“sem forma revolucionária não há arte revolucionária”, frase de Maiakóvski) e os poetas buscaram realizar obras mais engajadas.

Foi quando Augusto e Waldemar Cordeiro apresentaram, em dezembro do mesmo ano, seus popcretos, em que o rigor da tipologia bauhausiana cedeu espaço à tipografia dos jornais e revistas; elementos pop ou kitsch marcaram presença, pela primeira vez, na obra do poeta; e surgiram seus poemas ready made. Num deles, um espectador insatisfeito escreveu a palavra “lixo”, o que inspiraria o poema criado um ano depois por Augusto. 

Desde aquela época, como atesta a exposição na Luciana Brito Galeria, sua produção se tem mantido fiel ao desejo inicial de produzir uma poesia adequada a seu tempo. Augusto de Campos, um octogenário dono de uma obra realizada ao longo das últimas sete décadas, continua a ser um dos autores mais atuais do Brasil contemporâneo.

Luciana Brito Galeria apresenta exposição individual "Poemas e Contrapoemas" do artista Augusto de Campos.

 

visitação: de 30/03 à 01/06/2019

terça a sexta, das 10h às 19h; sábado, das 11h às 18h