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Galeria Luciana Brito

Waldemar Cordeiro

LB News
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Seguindo a tradição de alternar seus artistas contemporâneos com nomes históricos das artes plásticas brasileiras, a Galeria Brito Cimino traz, em seu novo espaço na Vila Olímpia, uma exposição retrospectiva de um dos principais expoentes do Concretismo Paulista, o artista de origem italiana Waldemar Cordeiro (1925-1973).

 

Trata-se de uma mostra com mais de 60 obras, dentre telas, desenhos, peças tridimensionais e paisagismo, um resgate da atuação de Cordeiro que,  ao modo de alguns dos grandes nomes das vanguardas européias do início do Século 20, estendeu sua produção aos limites da arte aplicada e acabou por abranger, num período relativamente curto, mais de uma corrente estética.

 

Curada pelos galeristas e Analívia Cordeiro, uma das filhas do artista, a exposição mostra tanto o desenvolvimento regular de Waldemar Cordeiro, a passagem de uma figuração de influência expressionista, para a abstração geométrica plena, no início dos anos 50, como suas experiências com arte e computação, a chamada Arteônica (arte-eletrônica), iniciada por ele, já em 1968.

 

Todas as instalações da galeria serão ocupadas, inclusive os corredores externos, em que estarão reproduzidos projetos paisagísticos, na verdade, a principal atividade profissional de Cordeiro, desde que passou a viver definitivamente no Brasil, a partir de 1946. Há projetos originais, estudos sobre flora brasileira, grandes plotagens de planos urbanísticos e jardins particulares e públicos, alguns fotografados pelo próprio autor.

 

O perfil retrospectivo da mostra será estruturado por módulos em que figuram exemplos de fases de uma diversidade notável, incomum a uma personalidade artísticas de posições teóricas tão sólidas. Um exemplo é a passagem de Cordeiro do Concretismo, do qual foi um dos fundadores ao integrar o grupo Ruptura, em 1952, para o chamado Pop creto, de 1964, cujas peças, na maior parte ready mades ´preparados`, buscavam aliar o construtivismo e apuro formal dos trabalhos anteriores a um senso mais lúdico e impactante do ponto de vista do público. Uma parede inteira da galeria será ocupada por essas composições com objetos ou parte de objetos cotidianos, deslocados para o universo da arte, obras que se tornaram referências para gerações posteriores como a dos neoconcretos.

 

Outro destaque da exposição são as telas praticamente desconhecidas, expostas em rara individual de Cordeiro, em 1963, que passaram ao largo da crítica e estiveram fora da última mostra significativa sobre o artista, no MAC-USP, em 1986.

 

E, para aqueles que realmente vão ter seu primeiro contato com a obra de Waldemar Cordeiro, será uma surpresa certa o fato de que, 30 anos antes da ampla difusão de uma arte feita com computadores, ele utilizava os pré-históricos aparelhos da Universidade de São Paulo, máquinas maiores que uma geladeira, para processar imagens símbolos de seu tempo, como fotos da guerra do Vietnã; uma experiência que conseguiu reunir o espírito engajado, experimental, com sua consciência profunda da história da arte no Ocidente. Ao vermos seu "A Mulher que não era B.B" (Brigitte Bardot), de 1971, imagem reprocessada e impressa por dígitos computacionais, fica clara uma releitura do pontilhismo impressionista, estampado no rosto horrorizado de uma menina vietnamita. Não por acaso, nos mesmos trabalhos, Cordeiro empreendia uma investigação extremamente sofisticada dos níveis de ruído em uma obra de arte.

 

Como material de registro, será lançado um CD-rom sobre a vida e obra de Waldemar Cordeiro, uma homenagem e também um testemunho de seu espírito visionário, por permitir a veiculação de suas obras, justamente como o próprio artista previu em depoimento, num meio não institucional, fora dos museus, possivelmente em computadores de uso doméstico.

 

Com certeza, a formação na Europa e a atuação diversificada no Brasil tornam o legado de Cordeiro pouquíssimo convencional. A exposição passa a ser assim, uma tentativa de evidenciar uma obra que vai além de grandes clássicos do artista que mudaram o curso das artes no país, como a tela “Movimento”, de 1951, e a escultura mecânica “O Beijo”, de 1967. A proposta de reavaliação do percurso de um nome dessa importância, em um espaço compatível, embora “não-museológico”, pensa-se simplesmente imprescindível para o entendimento do contexto contemporâneo. Seu esquecimento, como no caso de fases da produção de Cordeiro que acabaram por se perder com o tempo, é uma lacuna inaceitável num momento de consolidação das artes brasileiras, nacional e internacionalmente.

 

Assim como nas mostras dedicadas a Lygia Clark, em 1999, e Geraldo de Barros, em 2000, trata-se de alternar as exposições de artistas contemporâneos do elenco da galeria com alguns daqueles que construíram a própria possibilidade de existência da realidade artística vigente.

18.09.2001 a 13.10.2001

terça a sexta-feira, das 10h às 19h
sábados, das 11h às 17h

entrada gratuita