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Galeria Luciana Brito

LB News

Olhar conceitual e histórico marca mostra que analisa relações entre arte e vida

Curadoria de Adriano Pedrosa e Rodrigo Moura ocupa quatro espaço no Rio de Janeiro, e inclui trabalhos de Liliana Porter (fotos). Em cartaz até 21 de setembro

Liliana Porter, “Sem Titulo” (Self portrait with square), 1973 fotografia
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(Informações do jornal O Estado de S. Paulo. Excertos de matéria de Camila Molina, de 27/6/2014.)

Um cubo vermelho suspenso sobre a piscina do palacete do Parque Lage reflete, dependendo da luminosidade do dia, uma forma geométrica vibrante na água. A obra da artista Tsuruko Yamazaki foi criada em 1956, quando a japonesa era expoente do grupo Gutai, mas, agora, a instalação que repousa e ativa o pátio interno do local, torna-se um dos destaques da mostra Arte Vida, que começa nesta sexta-feira, 27, e estende até 21 de setembro, no Rio.

 

"O Gutai tem várias conexões com o neoconcretismo, com a relação da cor com a geometria, com o corpo, com a interatividade", diz Adriano Pedrosa, curador, ao lado de Rodrigo Moura, da exposição que ocupará quatro espaços da cidade. Projeto de R$ 4 milhões, Arte Vida estabelece cruzamentos entre mais de 300 obras realizadas dos anos 1950 aos 80 por brasileiros e estrangeiros. É mostra de caráter histórico, que joga luz para a criação experimental, ligada, geralmente, a questões do corpo e da política.

 

O palacete do Parque Lage não apenas recebe, em seu pátio central, o cubo vermelho da japonesa Tsuruko Yamazaki. Lá estão também, em uma sala expositiva, as esculturas-vestidos geométricas negras da série Hábito/Habitante, da alagoana Martha Araújo. No local, ainda, fotografias registram a brasileira usando este trabalho já histórico, de 1985. "Buscamos alguns artistas que não têm a visibilidade e reconhecimento que merecem", afirma Adriano Pedrosa, que assina com Rodrigo Moura a curadoria da mostra artevida, a ser inaugurada hoje na cidade carioca.

 

Trata-se de um projeto grande, realizado pelos curadores a convite da Secretaria de Estado de Cultura fluminense. O palacete do Parque Lage, no Jardim Botânico, apresenta, na verdade, apenas um dos segmentos da exposição, que se espalha também, agora, pela Casa França-Brasil (Rua Visconde de Itaboraí, 78) e pela Biblioteca Parque Estadual (Av. Presidente Vargas, 1.261). Mais ainda, a partir de 19 de julho, outros dois locais da capital receberão partes da mostra - o Museu de Arte Moderna (Av. Infante Dom Henrique, 85), e as Cavalariças do Parque Lage, espaço que abrigará trabalho comissionado do escultor africano Georges Adéagbo, do Benin.

 

Está no título da mostra que ela trata de relacionar a arte e a vida, mas a exposição toma este partido por um olhar conceitual e histórico, centrando atenção, especialmente, para criações das décadas de 1960 e 70. "Relações, conexões, leituras, correspondências, comparações", enumera Pedrosa, são alinhavadas a partir da arte brasileira - e de alguns de seus artistas e obras - com trabalhos de estrangeiros - a maior parte, desconhecidos ou pouco vistos no País e de regiões como o Oriente Médio, o Leste Europeu e a Ásia.

 

Na Casa França-Brasil, onde ocorre nesta sexta-feira, 27, às 11 horas, a primeira inauguração do projeto, da mostra artevida (corpo), as esculturas da década de 1960 da artista libanesa Saloua Raouda Choucair, de 98 anos, são estruturas modulares de madeira e terracota que dialogam com os Bichos criados na mesma época por Lygia Clark (1920-1988). As geométricas peças escultóricas de alumínio e com dobradiças que a brasileira realizou como convite ao manuseamento - e participação - de uma obra já são tão fundamentais na historiografia que se tornam o mote de um núcleo central da exposição.

 

Convergências

Nesse segmento, ainda, réplicas das esculturas de Lygia Clark também inspiraram ligações, por exemplo, com frottages sobre papel de 1977 da húngara Dora Maurer e com os grandes volumes de aço que, em 1967, a alemã Charlotte Posenenske colocou como elementos a serem compostos livremente pelas pessoas. A participação do polonês Edward Krasinski - escalado também para a 31.ª Bienal de São Paulo - é outro destaque, como a exibição do escultórico Heptágono (1977) espelhado da iraniana Monir Shahroudy Farmanfarmaian.

 

"São convergências, afinidades de interesse, pontos de contato, mas sempre lidando com a ideia de que estamos tratando de contextos e cronologias diferentes", afirma Rodrigo Moura. "Do nosso caso, brasileiro, partimos de um contexto carioca de arte experimental mais voltada para processo e para a experimentação e que por isso é mais aberto à vida", continua o curador, que é diretor do Instituto Inhotim.

 

À luz do neoconcretismo, outra brasileira fundamental na pesquisa é Lygia Pape (1927- 2004), representada por xilogravura de sua série Tecelares (1957), registro fotográfico do trabalho Divisor e pelo vídeo Trio do Embalo Maluco, ambos de 1968. Hélio Oiticica (1937- 1980) torna-se também incontornável, com Parangolés, mas é importante citar as participações, do Brasil, de Anna Maria Maiolino, Anna Bella Geiger, Antonio Dias, Iole de Freitas e Antonio Manuel.

 

Em artevida (corpo), temas como o autorretrato, o corte e a linha orgânica vão ainda promovendo o diálogo entre criações como de Ana Mendieta, Geta Bratescu, Ulay, Annegret Soltau, Yoko Ono, Gego e Seung-Taek Lee - o coreano é um destaque, especialmente, pela obra Godret Stone (1958), em que uma barra segura pedras penduradas por cordas.

 

Mas o projeto ainda compreende dois outros segmentos importantes. O intitulado artevida (arquivo), na Biblioteca Estadual, traz a público, agora, boa parte do arquivo do artista pernambucano Paulo Bruscky - com curadoria de Cristiana Tejo - e em julho, apresenta, no local, as peças de Graciela Carnevale. Já o Museu de Arte Moderna do Rio apresentará, no próximo mês, a grande mostra artevida (política). Obras de seu acervo dialogarão com outras vindas de coleções de vários países, ressaltando as respostas que criadores diversos deram a questões como ditadura, censura e repressão. 

 

Artistas participantes
Abdul Hay Mosallam, Alejandro Puente, Ana Mendieta, Anna Bella Geiger, Anna Maria Maiolino, Annegret Soltau, Antonio Caro, Antonio Dias, Antonio Manuel, Aref Rayess, Arquivo (Archive) Graciela Carnevale, Arquivo (Archive) Paulo Bruscky, Artur Barrio, Atsuko Tanaka, Beatriz González, BÄ›la KoláÅ™ová, Bhupen Khakar, Birgit Jürgenssen, Carlos Ginzburg, Carlos Leppe, Carlos Vergara, Carlos Zilio, Cecilia Vicuña, Cengiz Çekil, Charlotte Posenenske, Cildo Meireles, Claudio Perna, Cláudio Tozzi, Clemente Padín, Dóra Maurer, Eduardo Terrazas, Edward KrasiÅ„ski, Eleanor Antín, Emory Douglas, Esther Ferrer, Eugenio Espinoza, Franz Erhard Walther, Gavin Jantjes, Gego, Georges Adéagbo, Geta Brătescu, Gina Pane, Goran Trbuljak, Gülsün Karamustafa, Hassan Sharif, Heidi Bucher, Helena Almeida, Hélio Oiticica, Hitoshi Nomura, Horacio Zabala, Iole De Freitas, Ion Grigorescu, Jiro Takamatsu, Jo Spence, John Dugger, Josip Vaništa, Juan Carlos Romero, Judy Clark, Julio Plaza, Jürgen Klauke, Keiji Uematsu, Letícia Parente, Liliana Porter, Lotty Rosenfeld, Luis Camnitzer, Luis Fernando Pazos, Lygia Clark, Lygia Pape, Lynda Benglis, Margarita Paksa, Marisa Merz, Martha Araújo, Martha Rosler, Mathias Goeritz, Maurício Nogueira Lima, Mladen Stilinovic, Mohsen Vaziri-Moghaddam, Monir Shahroudy Farmanfarmaian, Nancy Spero, Nasreen Mohamedi, Nicola L., Nil Yalter, Olga De Amaral, Oscar Bony, Paulo Bruscky, Rachid Koraïchi, Rasheed Araeen, Regina Vater, Ricardo Carreira, Rosemarie Castoro, Saburo Murakami, Saloua Raouda Choucair, Sanja Ivekovic, Senga Nengudi, Seung-Taek Lee, Sue Williamson, Teresa Burga, Teresinha Soares, Tomislav Gotovac, Tsuruko Yamazaki, Ulay, Wanda Pimentel, Wesley Duke Lee, Yoko Ono, Yvonne Rainer, Zarina Hashmi, Zilia Sánchez