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Galeria Luciana Brito

Rochelle Costi: Verdadeiras Ilusões

LB News
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Verdadeiras Ilusões é o título da nova exposição de Rochelle Costi na Galeria Brito Cimino, a primeira mostra individual da artista na cidade desde sua participação na 24a Bienal de São Paulo, em 1998, quando expôs individualmente no antigo espaço da Galeria Brito Cimino. Nesse período, Rochelle desenvolveu algumas novas séries de imagens e participou de importantes bienais como do Mercosul (1999), de Pontevedra e Havana (ambas em 2000), de mostras como Ultra-Baroque (MAC, San Diego, 2000, e com larga itinerância pelo continente americano), Versiones del Sur: Más allá del documento (Museo Reina Sofía, Madrid, 2000), The thread unraveled (Museo del Barrio, Nova York, 2001) além de individuais na Cidade do México e em Madrid.

 

A artista dá prosseguimento à sua pesquisa sobre as formas espontâneas de estética, percebidas através da observação dos usos e costumes de cidadãos comuns nas grandes cidades. Rochelle Costi revela desta forma os meios e as formas com que esses habitantes escapam do anonimato, da uniformidade da massa, pela via da sensibilidade, marcando a singularidade de suas existências. São manifestações de individualidade – o gosto, os hábitos, as representações – dos trabalhadores anônimos, expressa nos interiores das casas e nas atividades cotidianas. Entretanto, se nos trabalhos anteriores Rochelle abordava o espaço e da subjetividade no anonimato das ruas e espaços públicos, as novas séries captam o exterior de casas e construções geradas por uma arquitetura informal para revelar as expressões do sujeito no espaço das cidades contemporâneas.

 

As Casas Cegas são propriedades desabitadas por seus proprietários, que, para assegurarem que ela fique “indevassável”, protegida de invasões ou novos usos, fecham portas e janelas com cimento e tijolos. O espaço outrora de moradia agora está vazio, estéril, transformado em um lugar onde a luz não entra e, portanto, a vida não passa. Nada mais habita ali a não ser uma memória encarcerada na escuridão do esquecimento. Esses trabalhos levantam questões  quanto ao valor e uso da propriedade, seu sentido econômico e social, a ética do possuir. Ao se transitar pelas ruas essas casas podem passar desapercebidas, mas elas existem como monumentos silenciosos de uma perda, de um abandono calculado, e da arbitrariedade nos movimentos, fluxos e interesses que operam na constituição e transformações da paisagem urbana.

 

Na série de arquitetura informal, Rochelle mostra “casas” construídas a partir da reciclagem de lixo e que informam sobre seus autores de um outro modo. São esculturas efêmeras, construídas a partir do nada, não existem legalmente, mas moldam-se às necessidades de quem as fez existir. Essa arquitetura da carência, apesar das dificuldades de construção, revela engenho e criatividade.

 

A obra com maior dimensão na mostra, “Sem Título” (440 x 560 cm) serve de eixo aos outros trabalhos mostrados pela artista. A foto mostra uma paisagem idílica, quase irreal, mas imediatamente associada à imagem de um “sonho de consumo”, semelhante às aspirações representadas em uma imagem de publicidade de imóveis ou de um calendário comum, outra referência na formação de um imaginário popular. Embora real, a imagem evoca um espaço desejado mas que parece não poder ser alcançado. O sentido nostálgico desta imagem é acentuado pela estratégia da artista em utilizar a câmara fotográfica na perspectiva do olhar de uma criança. O local fotografado é uma chácara em Caxias do Sul, cidade onde Rochelle nasceu e passou a infância.

 

No mezanino da galeria encontra-se uma imagem “enigma”, como quer a artista. Trata-se da fotografia de uma pedra emersa no meio da areia e que tem como fundo a amplidão do mar. Este trabalho encerra a exposição como uma imagem ambígua, enigmática sobre o seu sentido – um estranhamento quase de ficção no meio do realismo das outras imagens – e apresenta-se como uma provocação, pela sua veracidade, num momento em que a prática da fotografia parece condenada a imagens de photoshop, plenas de virtualidades. Para Rochelle, a realidade parece ser muito mais interessante e surpreendente.

 

No correr da exposição será lançado um catálogo sobre a obra de Rochelle Costi, organizado pelo crítico e curador Ivo Mesquita.

28.08.2003 a 24.09.2003

 

 

terça a sexta-feira, das 10h às 19h
sábados, das 11h às 17h
entrada gratuita