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Galeria Luciana Brito

Mônica Nador: Cubo Cor [Autoria Compartilhada]

LB News
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A longa tradição da arte enquanto exercício coletivo tem vias abertas na contemporaneidade. Responde ao desejo de superar o individualismo excessivo que reina numa sociedade compartimentada. Estimula a criação artística na conjugação de novas subjetividades. É o que revela o caminho escolhido por Mônica Nador ao instalar uma oficina no Jardim Miriam para a troca de experiência com moradores da região. 

O encontro seria logrado no manejo de figuras comuns, que preenchem a imaginação dos habitantes de espaços periféricos da grande cidade. Mas valores comuns, que permeiam a vida cotidiana, não podem ser tomados por coisa simples, de fácil reconhecimento e reprodução. Melhor buscá-los no domínio do gosto, lá onde desperta o prazer. 

Por isso não surpreende a afinidade inicial com motivos ornamentais de teor geométrico e vegetal. O que remete à dimensão arcaica ou pelo menos aos modos praticados em sociedades que não conheceram a modernidade industrial. Pois, como se sabe, nestas, o ornamento seria tratado como crime, nas palavras de Adolpho Loos. 

A experiência no Jardim Miriam amadurece a partir da ornamentação da própria casa, com o desejo de colorir o muro, marcar paredes e embelezar ruas. A aplicação de motivos passíveis de serem mobilizados e transformados desdobra-se, com proveito decorativo, a partir de matrizes para estampa. Na seqüência de transformações regradas pela mão, nascem jogos de oposição, contraposição, justaposição, superposição.

O desafio da combinatória, a liberdade de execução levam os artistas a romper a estrita reprodução das figuras. Atingem a forma pelo traçado, tendente à planimetria.

A estampa de cores orientada para construção de padrões adquire grande vigor. Num percurso de ida e volta, as cores ativam, hoje, as paredes do cubo branco da Luciana Brito Galeria. 

Superada a economia de mimese, elementos gráficos são transpostos para o campo pictórico. A técnica reprodutiva vai tramar a pintura por adição e subtração. Somos captados pela vibração das sucessivas camadas que animam esta pintura plural.

15.11.2011
Ana Maria Belluzzo

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Pela primeira vez, uma mostra estabelece a relação entre a produção autoral de Mônica Nador e o seu desejo de difundir o conhecimento adquirido ao longo de sua trajetória artística. Além de seus trabalhos em tela e papel, a artista, juntamente com integrantes do Jamac (Jardim Miriam Arte Clube – zona sul de São Paulo), irá utilizar a técnica do estêncil para a realização da instalação Cubo Cor – um trabalho de engajamento cromático, numa ação demarcada pelo espaço institucional.

A exposição explora o caráter da experimentação artística proposta pela artista junto ao Jamac, em conjunto com o seu trabalho autoral, que é o alicerce de toda a sua produção compartilhada com as comunidades nas quais ela trabalha e com as quais interage.

Todo o processo de produção, bem como a trajetória artística de Mônica Nador e Jamac, será registrado num catálogo bilíngue, em parceria com a Pinacoteca do Estado de São Paulo e produção editorial de Thais Rivitti. Um videodocumentário sobre os momentos importantes do seu trabalho de autoria compartilhada também será produzido e exibido durante a exposição. Além disso, serão realizadas oficinas de estêncil, com as quais o participante aprenderá como produzir e aplicar em diferentes superfícies.

Para tanto, a artista utiliza a técnica do estêncil, que envolve um trabalho de pesquisa, pintura e, finalmente, aplicação sobre a superfície a ser ocupada – neste caso, as paredes e fachada da galeria. Esse tipo de manifestação artística ganha visibilidade e atrai cada vez mais colecionadores, pois sua versatilidade permite que seja produzida não só em espaços públicos e institucionais, como também privados.

Além disso, nove trabalhos em papel, cinco telas e um videodocumentário também fazem parte da programação. Essas obras são o resultado de um procedimento individual da artista, numa produção coletiva com integrantes do Jamac. 

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A partir do final dos anos 1990, já reconhecida pelo seu trabalho, Mônica Nador assume novas escolhas, dando um novo direcionamento a sua pesquisa pictural. Sua obra, então, passa a funcionar como um veículo para outros estágios da percepção, promovendo a discussão do papel e da aplicação da arte. Surgem, dessa forma, a arte engajada e o comprometimento ideológico que se veem nos dias atuais, quando ela coloca em prática sua visão de mundo, por meio de um viés participativo, cognoscitivo, estético e social, em comunidades onde o vínculo com o circuito das artes é inexistente, tornando real a função social da arte.

Mônica Nador formou-se em artes plásticas pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP-SP). Sua primeira exposição individual acontece em 1983 no Museu de Arte Contemporânea (MAC-USP). Em 1994, recebe a bolsa de estudos da Mid-America (EUA) e, a partir de 1996, por meio de mestrado sobre o mesmo tema pela ECA-USP, a artista inicia os trabalhos aos quais se dedicará até os dias atuais: Paredes Pinturas. Já em 1999, além de ganhar a Bolsa Vitae de Artes com esse projeto, a artista desenvolve o Paredes Pintadas, em conjunto com os moradores da Vila Rhodia, em São José dos Campos (SP). Em 2008 e 2009, viaja pelo Brasil, através do programa Comunidade Solidária. Atualmente, a artista tem seu trabalho centrado no Jamac (Jardim Miriam Arte Clube), na zona sul de São Paulo, que funciona como um espaço de experimentação cultural e artística para aquela comunidade. Recentemente, seus trabalhos puderam ser vistos no Pavilhão das Culturas Brasileiras, Parque do Ibirapuera, São Paulo (2011, Autoria Compartilhada), Estação Pinacoteca, São Paulo (2010, Pinturas de Exteriores), Toyota Municipal Museum of Art, Japão (2008, Blooming Brazil-Japão) e Toulouse, França (2005, Mônica Nador e Jamac), além da VII Bienal Internacional de Arte SiArt (2011), La Paz, Bolívia, do 41º Salón Nacional de Artistas de Colômbia, Cali (2008) e da 27ª Bienal de São Paulo (2006), Brasil.

19.11.2011 a 02.03.2012