Daniel Senise

Daniel Senise, um dos expoentes da chamada Geração 80, mostra, a partir de 24 de outubro, na Galeria Brito Cimino, oito telas inéditas de médio e grande porte que indicam uma renovação significativa em seu percurso recente.

O artista carioca, que hoje vive e trabalha em Nova Iorque, incorporou novos procedimentos àqueles que o consagraram como um dos principais responsáveis por uma rediscussão da imagética na pintura brasileira contemporânea, e trouxe um caráter praticamente conceitual para suas últimas telas, sem perder uma beleza sutil e programada.

Diferente de outros nomes de sua geração, Senise parecia já ter optado por não trabalhar com conteúdos explicitamente ligados à cultura nacional, para aderir sem ressalvas à questão do domínio pictórico e, principalmente, ao problema da conservação da imagem na pintura da atualidade.

Desde o início de sua carreira, suas telas traziam signos flutuantes, universais, que, da maneira que foram pintados, parecem incorporar uma ação temporal extensa, traduzida mais imediatamente no que nos acostumamos a valorizar na pintura em termos de uma sensualidade e de um significado propositalmente difuso.

Nesta nova exposição individual, há uma releitura interessante de técnicas como a “frotagem” ou “decalque”, utilizadas por expoentes do Surrealismo, como Max Ernst, na década de 20. No caso de Senise, ocorre o inverso do “automatismo psíquico” proposto pelos surrealistas, como se a investigação instantânea das possibilidades de criação se transformasse em possibilidade de reflexão dos aspectos históricos da própria pintura.

A poética dessas últimas pinturas de Daniel Senise consegue ligar a realidade privada do artista, figurada pelo espaço em que trabalha, porque é o piso de seu próprio estúdio que é “decalcado” no tecido, com o espaço institucional, “tridimensional” de museus que o espectador acaba por descobrir delineados no plano da tela. São lugares inóspitos e incoerentemente vazios, mas que o artista preenche com a continuidade de sua obra.