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Galeria Luciana Brito

Galeria Brito Cimino 10 anos

LB News
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Para comemorar seus 10 anos, a Galeria Brito Cimino investiu em uma profunda reforma de suas instalações e também na renovação da linguagem visual de sua marca e de seu site. Dos anteriores 400m2, passa agora a ocupar cerca de 900m2, ampliando os espaços expositivo, de acervo e administrativo, além de ser tornar a única galeria brasileira a contar com uma sala especialmente projetada para exibição de vídeos.

 

“Como trabalhamos com arte contemporânea a questão da inovação é objetivo permanente e com estas profundas reformulações podemos expressar concretamente esta nossa preocupação”, explica Fabio Cimino que, ao lado de Luciana Brito, fundou e dirige a galeria.

 

Para marcar ainda mais este dinamismo, o novo espaço, com projeto arquitetônico de José Armênio de Brito Cruz, será re-inaugurado com exposições dos três artistas mais recentes do elenco da Brito Cimino: o alagoano Delson Uchôa, a artista sérvia Marina Abramovic e o baiano Mario Cravo Neto.

 

Delson Uchôa apresenta uma reunião recente de pinturas sobre lona em escalas monumentais, explorando as possibilidades de uma pintura habitada, nos termos da curadora Cristina Tejo. Como é constante em seu processo criativo, as obras foram germinadas, modificadas e retrabalhadas por anos, como que se alimentando continuamente de si mesmas.  Trabalhando incansavelmente as potências de cor, e, portanto, luz, o artista cria um ambiente de vibração, que o observador visita com o corpo. Em muitas das obras existem camadas de lona que podem ser levantadas e mesmo penetradas pelo visitante e, entretanto, a qualidade de pintura habitada não se deve a simples possibilidade de adentrar um interior, pelo contrário, o ambiente fora dele já oscila, preenchido, encontrando na maleabilidade das camadas um acirramento do jogo de luz que desenha o espaço.

 

Apesar de relacionar diversos fragmentos cotidianos em uma fatura obstinada de sobreposições, embebida de uma reflexão característica da assemblage, Delson Uchôa contrapõe este tempo estilhaçado, contemporâneo, a uma serenidade que parece resgatada das antigas tradições de tapeçaria, proeminentes na região de Maceió, onde nasceu e mora. Como numa espécie de trama, as qualidades distintas de cada material utilizado vão tecendo um todo de cor espesso.

 

“Por meio de seus trabalhos, a cultura regionalista amolece e deixa, gradualmente, de ser um território ‘fechado’, sem que isso implique uma recusa ao cotidiano habitado em favor de uma afiliação a códigos criados em outros espaços. Suas pinturas são construções híbridas, que traduzem e aproximam, de modo sempre inconcluso, formações culturais diversas”, escreve o crítico Moacir dos Anjos.

 

Esta é a primeira individual do artista alagoano em uma galeria paulista, que acontece simultaneamente a 30ª edição do Panorama de Arte Brasileira, no MAM, em qual também recebe destaque. Além disto foi representado anteriormente em uma individual no Instituto Tomie Ohtake, em 2003, e na Bienal Internacional de São Paulo de 1998, com curadoria de Paulo Herkenhoff. Fora de São Paulo é preciso ressaltar sua importante individual no MAMAM – Recife, com curadoria de Moacir dos Anjos (2005).

 

Já Marina Abramovic (Belgrado, Iugoslávia, 1946), uma das pioneiras mundiais da performance, ganhadora do Leão de Ouro na Bienal de Veneza (1997), inaugura a sala de projeção com o vídeo “The Onion” (A Cebola). Num close de seu rosto maquiado, com batom e unhas vermelhas e olhar para cima, ressaltado pela diagonal baixa da câmera, a artista segura uma grande cebola, que começa a mastigar lentamente. Ao fundo o voice-over, também em ritmo vagaroso, repete uma fala sua de fadiga: “Estou cansada de mudar de avião tantas vezes, esperando nas salas de espera, estações de ônibus, estações de trens, aeroportos. Estou cansada de esperar em filas sem fim para checarem os passaportes. Compras rápidas em shoppings de compras. (...) Estou cansada de ter vergonha do meu nariz ser muito grande, da minha bunda ser muito grande, com vergonha da guerra na Iugoslávia. Eu quero ir embora. Para um lugar tão longe que eu seja inalcançável, por telefone ou fax. Eu quero ficar velha, muito, muito velha, assim ninguém mais se importará(...)”.

 

A princípio o vídeo tem o tom de uma encenação hilária, non sense, em que as reclamações parecem frívolas e ridículas, mesmo quando tocando assuntos mais profundos, e na verdade, especialmente nestes momentos. Entretanto, gradualmente, o fato de não ser uma encenação e sim uma performance, na qual a artista está realmente devorando uma cebola crua, vai adensando uma sensação efetiva de cansaço – tensa. A artista alcança um aparente limite físico, numa autodestruição que acompanha a destruição de sua imagem inicial no filme; seus olhos lacrimejam, o batom derrete, ela chega mesmo a soluçar; é possível ouvir o barulho de cada mastigar da cebola, que ela come inteira, até a casca... A obra faz parte do núcleo de uma pesquisa extensa na qual Abramovic explora, dentre outras coisas, a qualidade inseparável entre corpo e mente.

 

Marina Abramovic participou de duas Bienais de São Paulo, 16ª (1981) e 18ª (1985), e no ano passado realizou sua primeira individual no Brasil, Épico Erótico dos Bálcãs, no SESC Pinheiros. A sua obra está presente nas mais importantes coleções públicas do mundo: Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, EUA; Musée National d’Art Moderne, Centre Georges Pompidou, Paris, França; Stedelijk Museum, Amsterdã, Holanda; the Van AbbeMuseum, Eindhoven, Hollanda; the Irish Museum of Modern Art, Dublin, Irlanda; e Kunstmuseum Bern,Berna, Suíça, entre outras.

 

Por fim, a vídeo-instalação “La Mer” de Mario Cravo Neto estréia a nova sala no andar superior da galeria. Em um desdobramento da exposição “somewhere over the rainbow”, realizada no MAM de Salvador na mostra Pan-Africana de Arte Contemporânea (2005), o artista projeta vídeos com grandes imagens de mares baianos, que rodeiam o observador. Às qualidades “escultóricas” que já eram exploradas em suas fotografias, expressas, por exemplo, na textura das águas, acrescenta-se outra complexidade poética com a escolha da videoinstalação como linguagem, na qual o corpo do visitante, e seu movimento passam a ser elemento compositivo da obra.

 

“A instalação nos convida a mergulhar nesse mar virtual e a pensar nos significados que ultrapassam sua superfície (...) Nesse novo desafio, é como se o artista se lançasse em direção à vastidão ainda a ser explorada, a uma nova maneira de ver o mundo, baseada no conhecimento acumulado. Na fase que marca uma transição, os espaços fechados agora se abrem. A luz é natural e convida a olhar para o lado de fora”, escreve Solange Farkas, curadora da exposição em Salvador. 

 

A dimensão deste conhecimento acumulado revela um embate fértil de Mario Cravo Neto com a cidade de Salvador e as inúmeras contradições que a estruturam. Em uma aspiração de unidade que reitera o mito, o fetiche, em sua qualidade ancestral de espiritualidade, o artista mostra-se consciente das muitas fraturas que entremeiam o desejo de integração com a natureza e suas divindades; preserva a sutileza de sugerir um mistério sem que seja preciso desvelá-lo.

 

Reconhecido nacional e internacionalmente, Mario Cravo Neto já realizou exposições individuais na França, Espanha, Itália, Alemanha, Suíça, Estados Unidos, entre outros países. Participou de cinco edições da Bienal Internacional de São Paulo, e suas obras estão presentes em inúmeras coleções nacionais e internacionais, como: MoMA (NY), Fundação Cartier (Paris), Brooklyn Museum (NY), Museum of Fine Arts (Houston) e Stedelijk Museum (Amsterdã).

06.11.2007 a 12.01.2008

 

 

terça a sexta-feira, das 10h às 19h
sábados, das 11h às 17h
entrada gratuita